quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entrevista do Prof. Fernando Galembeck concedida ao site 365 dias de Química

   Esse é um trecho da reportagem do Jornal Alquimista 77 abril de 2011, da USP, que está entrevistando todo mês personalidades da Química para falarem sobre esta ciência maravilhosa em comemoração sobre o Ano Internacional da Química.
    Como e quando tudo começou?
Meu interesse pela Química surgiu a partir dos onze anos, quando passei a trabalhar no escritório do laboratório farmacêutico de meu pai, fazendo arquivos, datilografando, emitindo notas fiscais, empacotando remédios para enviar às farmácias, etc.. As embalagens e bulas dos medicamentos me pareciam fascinantes e o ponto alto, para mim, eram as fórmulas, com nomes de substâncias, suas atividades, quantidades e concentrações. Aprendi que substâncias químicas fazem a diferença entre a saúde e a doença e que elas eram a base do sustento material da minha família.
     Por que fez essa escolha profissional?
Meu interesse pela Química cresceu nas aulas de ciências e depois de Química. No colegial, um grupo da minha classe organizou um laboratório, que funcionava na casa do Nelson Reis, imagine! Dois fatores foram decisivos para que eu fizesse o curso de Química: primeiro, meu professor de Química e Física, Hermann U. Nabholz, me disse que eu deveria cultivar minha inclinação para a pesquisa. Além disso, a situação  financeira da minha família não me permitiria passar um ano fazendo cursinho. Portanto, eu deveria passar no primeiro vestibular que fizesse, e o do curso de Química da Faculdade de Filosofia era menos concorrido que o de Engenharia Química.

     Alguma sugestão para os novos profissionais e estudantes?
Leiam muito mais do que estão lendo. Se acharem que já estão lendo muito, leiam mais ainda. Reflitam, pensem e planejem bastante, para que o trabalho renda. Trabalhar muitas horas não ajuda, se o tempo não for muito bem aproveitado. Se não conseguirem fazer Química com paixão, mudem para outra atividade que possam exercer com paixão. 
    Quais barreiras a Química precisa ultrapassar ou quais perguntas ainda precisam ser respondidas?
A Ciência atual é arrogante, mas suas realizações são ainda modestas. Precisamos criticar e em grande parte liberar-nos da herança positivista e do  reducionismo excessivo. Sou físico-químico e tenho trabalhado em Eletrostática, que para muitos professores de Física é um assunto bem conhecido da Física do século 19. De fato, a ignorância humana em Eletrostática é profunda. Não sabemos ainda encaixar os
fenômenos eletrostáticos no  quadro da teoria atômicomolecular e isso causam explosões, incêndios e mortes, todos os anos. No caso do atrito, a situação é ainda pior. Pouco compreendemos, embora muitas pessoas achem que, usando palavras pomposas (tribologia, triboeletricidade, etc.), estejam respondendo questões científicas. A primeira pergunta que precisa ser respondida, em ciência em geral e em Química, é a seguinte: por que tantos cientistas gostam de trocar o esforço de compreensão do nosso mundo por um
palavreado quase vazio?

  
  

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